FITOTERAPIA - PRIMEIRA PARTE

Caros leitores . . .

Esse é um assunto atual e muito envolvente. Vou procurar fazer algumas matérias sobre ele e esta é a primeira dentre outras.

A fitoterapia (tratamento feito a partir de partes específicas de algumas plantas ou até da planta inteira) ganha espaço a cada dia no mundo todo. Hoje, grandes laboratórios da indústria farmacêutica nacionais e multinacionais investem em pesquisas e produzem seus fitoterápicos.

Vejo tudo isso com ressalvas, pois sou especialista em fitoterapia e como biomédico acupunturista habilitado para a prática da fitoterapia, escuto histórias e mais histórias de pacientes que se auto-medicam com fitoterápicos, encontrados nas farmácias convencionais e nas farmácias de manipulação em prateleiras e balcões, todos para serem comprados sem a menor orientação e sem restrição.

Acredito muito na fitoterapia e tenho obtido resultados maravilhosos em meu consultório, porém não raras vezes atendo pacientes com histórias desastrosas devido à ingestão de fitoterápicos sem a anuência de um profissional habilitado para tal.

A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) na sua legislação até recente, determina que 11 fitoterápicos (todos citados com seus nomes oficiais e usuais, ou seja, populares), sejam prescritos apenas por médicos. São fitoterápicos usados para patologias bem específicas, ou seja, possuem grande especificidade, além dos efeitos colaterais serem mais sérios.

Atitude louvável! Atitude responsável! Porém, tais medicamentos ficam nas prateleiras das farmácias para serem adquiridos por qualquer pessoa e de qualquer idade, para serem consumidos sem orientação (além da bula).

Muitos fitoterápicos que se encontram nas prateleiras das farmácias para serem consumidos à vontade, mesmo não fazendo parte do rol desses 11 com prescrição exclusiva de médicos, podem trazer consequências drásticas e muitas vezes acidentes com consequências irreversíveis se não acudidos à tempo.

Um exemplo disso é o uso indiscriminado do "boldo" e da "carqueja" que são coleréticos e colagogos (ativam a produção de bile pelo fígado e eliminação de bile pela vesícula biliar), por pessoas que tem cálculos na vesícula. O excesso desses fitoterápicos poderá levar a pessoa a fazer uma pancreatite aguda, que é sempre grave e requer socorro médico especializado imediato. Outro exemplo é a ingestão de "chá de maracujá" ou qualquer outra preparação que tenha o maracujá, também conhecido como passiflora, por pessoas hipotensas, pois o maracujá é um hipotensor. Imagine mães com filhos com insônia ou muito agitados, mas que são hipotensos e a mãe nem sabe, dando à eles cápsulas de passiflora, sem a orientação profissional adequada!

Outro grande descuido clássico nos dias atuais: pacientes idosos, com diabetes insulino-dependentes e com artrose em alguma articulação, fazendo uso de "garra do diabo", que é um poderoso anti-inflamatório, mas é hipoglicemiante (efeito colateral do fitoterápico). A pessoa vai fazer hipoglicemia e nem vai saber qual o motivo e muitas vezes a hipoglicemia vai à níveis críticos, colocando a vida do idoso (se já está descompensado com outros fatores) em risco.

Este texto tem a intenção apenas de alertar a todos que são adeptos à fitoterapia (todos de parabéns, pois bem prescritos e sob orientação adequada, fazem um ótimo efeito), procurem sempre profissionais gabaritados e com habilitação para tanto. Como não existe ainda uma legislação específica para a prescrição de fitoterápicos (além dos 11 que mencionei acima), alguns Conselhos de Classe estão balizando Resoluções para que seus profissionais estejam habilitados. Muitos desses profissionais não tiveram em seus cursos matérias específicas para poder fazer prescrição de fitoterápicos, mas como possuem a "carta branca" de seus Conselhos, acabam fazendo prescrições e os acidentes já começaram a acontecer. Não estou aqui para fazer julgamentos e nem citar quais são esses Conselhos. Apenas fica aqui o meu alerta para que você que é adepto aos fitoterápicos, avalie o profissional que está fazendo a prescrição e orientação no uso.

Caso você tenha o hábito de tomar fitoterápicos e não procura por profissional com especialização, não deixe de pelo menos procurar a orientação do farmacêutico que estiver na farmácia no momento. Não aceite orientação do balconista! Ele não está apto a dar essa orientação. Peça a orientação do farmacêutico, que sempre estará na farmácia, por obrigação da legislação.

Um forte abraço.

Dr. José Roberto Tavares Lima